Ricardo Caetano - Para si a escrita é... Liberdade, vida.
"Recordo-me que comprou uma sebenta, e comecei aos poucos a escrever."

Olá, Ricardo, muito obrigada por ter aceitado esta entrevista.
Vamos lá…
Quem é o Ricardo Caetano?
Sou um homem de família, trabalhador – (tradutor e assistente administrativo), empreendedor e sonhador.
Como a escrita entrou na sua vida?
Penso que terá sido por volta dos 8 anos, em que a minha mãe percebeu que eu gostava de exprimir ideias e sentimentos. Recordo-me que comprou uma sebenta, e comecei aos poucos a escrever. A poesia entrou mais tarde, penso que por volta dos 12, 13 anos.
De alguma forma a sua escrita torna-se um ponto de vista diferente?
Penso, aliás acredito que cada poema é uma história que um leitor mais atento pode imergir e até mesmo identificar-se.
Acredito também na capacidade de interação, e mesmo de libertação, isto no sentido que aborda vários temas, vários sentimentos contando, contudo, com uma mensagem de esperança, sendo por isso libertadora.
"Após isso, o processo foi se agilizando e à medida que a ideia crescia, o livro ganhava forma."
Onde encontra inspiração para os seus textos?
Em tantas situações, seja desde sentimentos próprios, em confidências que me são feitas e por serem tão pesadas, tenho a necessidade de desabafar para me libertar desse sentimento negativo.
Também encontro inspiração em vários elementos da natureza, sobretudo no mar. Também na música, numa passagem dum filme.
Lançou “100 Palavras”, uma obra de poesia, que géneros de textos estão presentes?
Maioritariamente talvez sejam dramáticos, mas também encontramos alguns mais líricos.
Encontramos poemas a abordar pontos sociais, outros encontramos sonetos que são como um Ode ao amor.
Como foi o processo da obra “100 Palavras”, desde a criação até ser publicada?
No meu caso que sempre mantive a poesia quase como algo secreto e não pensava em editar um livro, o mais difícil foi mesmo deixar-me convencer por amigos a editar um livro.
Após isso, o processo foi se agilizando e à medida que a ideia crescia, o livro ganhava forma.
O processo de encontrar uma editora também acabou por ser algo simples, já o ter de esperar para ter o livro em mãos é que foi uma luta contra a ansiedade e impaciência.
"Provavelmente não lançaria o livro em plena pandemia."
Além de poesia, enquanto escritor, pensa criar outros géneros?
Mmmm…. Posso revelar que estou a escrever um drama romântico, com algumas surpresas pelo meio. É um projeto que quero trabalhar com muita atenção, mas é claro que volta e meia, escrevo na mesma poemas.
Enquanto autor, gostaria de se internacionalizar?
Como disse anteriormente, não pensava sequer em mostrar o que escrevia, quanto mais editar um livro. Contudo já que essa etapa foi vencida, porque não ter algum reconhecimento a nível nacional e quem sabe atingir outros mercados.
Se fosse hoje, mudaria alguma coisa na sua obra?
Pergunta interessante… Talvez. Isto é, sim e não. Penso que faria uma obra um pouco mais pequena ou talvez não pois deixaria de ter sentido o título. Provavelmente não lançaria o livro em plena pandemia. Esperaria para o lançar num evento físico, onde realmente se poderia dar a devida honra e dignidade à poesia.
"Existe falta de cuidado, de carinho, de apoio para com, digamos o produto interno."
Uma nova obra está a caminho, pode nos revelar algo?
Verdade, estou naquela fase da impaciência e da ansiedade. – Risos
Embora seja poesia, nesta obra exploro um lado mais “dark”, obscuro, mais metafórico.
Como foi a receção das pessoas relativamente à sua obra?
Primariamente, como não sabiam que eu escrevia, ficaram surpresas, depois quando se deram conta de que era um livro de poesia, então é que foi a surpresa total. Depois de lerem, tive várias pessoas que me escreveram a dar os parabéns, outras que me agradeceram porque determinado poema tocou-lhes a “alma” e os fez chorar e pensar na vida. Outros até mesmo publicaram nas redes sociais. Acredito que no geral as pessoas gostaram.
Enquanto autor, na sua opinião, o que falta em Portugal para lerem mais os nossos autores?
Em Portugal pode-se dizer que é complicado ser-se leitor, mas muito mais complicado ser-se autor.
Se pensarmos que os valores dos livros, no geral, têm um preço elevado para o custo de vida em Portugal. Depois a nossa mentalidade, ou da maior parte, é de que o que vem de fora é que é bom.
Existe falta de cuidado, de carinho, de apoio para com, digamos o produto interno.
Penso que é necessária uma reeducação. Quando a 40, 50 anos, até se calhar mais, se continua a insistir nas escolas a ler-se Eça de Queirós, Gil Vicente – atenção que não estou a tirar-lhes o mérito. Devia-se apostar em autores mais modernos. Chamar autores locais e nacionais às escolas. Porque não os jornais e rádios locais divulgassem os “seus” autores conterrâneos. As próprias câmaras municipais apoiarem, afinal trata-se de cultura.
E volto a referir, nós próprios temos culpa. Procurar conhecer novos autores nacionais, apoiar comprando suas obras e até mesmo por fazer algo bem simples, partilhar publicações dos nossos autores.
"Estamos num país de poetas, no entanto não se consome poesia."
Na sua opinião, o que poderia ser feito pelas editoras para chegarem a mais público?
Existem alguns pontos que umas editoras o fazem muito bem e depois descoram noutros pontos.
Se falarmos de editoras clássicas, são inatingíveis para novos autores a menos que sejamos uma figura mediática. Depois temos as ditas Vanitys que na sua maioria não lhes interessa tanto a qualidade da obra, mas interessa-lhes mais a quantidade de livros. Depois temos as verbas pedidas versus o que prometem.
Acredito que as editoras poderiam se aproximar de influencers que tanto amam ler, e passar-lhes obras dos seus autores, de forma que as mesmas sejam alvo de review e consequentemente divulgadas.
Ou seja, apostarem mais em markting.
Para si a escrita é…
Liberdade, vida.
Deixe uma mensagem para os seus leitores:
Que abracem o livro de espírito aberto e sintam a história por detrás de cada poema. Que consumem mais poesia. Estamos num país de poetas, no entanto não se consome poesia.
Partilhe connosco uma passagem favorita do seu recente livro:
Confesso que não sou agarrado a passagens, a algo favorito, todos tem o seu valor, não deixando de umas expressões me tocarem mais do que outras. No livro 100 Palavras, tenho poemas que as pessoas gostam muito, tais como: A noite; A nossa dança; Sentimentos; Grito calado. Como expressões recordo-me por exemplo.
“Não haverá mais Pôr-do-sol,
Porque o arrancaste de mim.
As lágrimas e a angústia,
Tropeçam para esse odre encher.
…
Cego de olhos abertos,
À espera de nosso pôr-do-sol.”
Uma que também aprecio bastante é:
“Sem asas me vi voar no tempo,
Para me aprisionar no infinito.”
Já no livro que se avizinha, tenho vários poemas e várias expressões que não só me fascinam como me apaixonam.
Muito obrigada, Cristina, Entre Palavras
Eu que agradeço e faço votos de muito sucesso e muitos objetivos.
Foi um gosto
Obra do Autor:
