Márcia Vieira Ávila - Para si a escrita é... oxigénio.
Atualizado: 11 de nov. de 2022
"Sou uma alma curiosa e tenho desde sempre uma imensa vontade de saber mais sobre praticamente tudo."

Olá, Márcia, primeiro que tudo, muito obrigada por ter aceitado o nosso convite para esta entrevista.
Eu é que agradeço esta oportunidade! Fico muito grata por poder partilhar o meu livro MARAVI, a menina da ilha e o meu percurso conseguindo assim chegar a cada vez mais pessoas.
Quem é a Márcia Vieira Ávila?
Sou uma Açoriana que veio para Lisboa estudar arquitetura e acabou por ficar, no entanto sempre que consigo, vou a casa. Tenho na ilha os meus pais, o meu irmão e respectiva família e quer vá 1 dia ou uma semana a saudade que sinto ao vir embora nunca desvanece. Sou um ilhéu na Capital. Sou uma alma curiosa e tenho desde sempre uma imensa vontade de saber mais sobre praticamente tudo. Quando mais estudo ou leio ou tento aprender mais noção tenho que de nada sei e que precisaria de mais mil vidas.
De onde surge a sua inspiração? O que a move?
A inspiração surge de todas as histórias que me rodeiam, tanto as que vivo ou já vivi como as que vou ouvindo ou que de alguma forma se cruzam no meu caminho. O que me move neste momento é mesmo transformar os sonhos em realidade e se isso por consequência atingir positivamente alguém no percurso ainda mais motivação me dá.
"Tal como tantas outras pessoas fiz um balanço de vida e decidi que não podia adiar mais."
Como nasceu a história da “MARAVI – a menina da ilha”?
Ir à ilha regularmente é reviver episódios por fotos ou memórias contadas à mesa e desde as primeiras viagens Terceira-Lisboa que quando estou sentada no avião penso: ‘e se eu escrevesse estas histórias?’. Sempre andei com blocos e cadernos e no meio dos desenhos dos diários gráficos apontava pequenas notas que mais tarde, todas condensadas, deram origem à MARAVI. Este livro é uma espécie de autobiografia e no fundo foi crescendo e se desenvolvendo à medida que me fui sedimentando enquanto pessoa.
Quanto tempo demorou todo o processo da obra? Desde a ideia até a publicar?
Este sonho levou mais de 20 anos a sair da ‘gaveta’. Entretanto quando fiz 40 anos o mundo parou 1 mês depois por causa do COVID. Tal como tantas outras pessoas fiz um balanço de vida e decidi que não podia adiar mais. Quando diariamente se pensa, idealiza, projeta mentalmente uma determinada ideia, já passou do mero conceito ao estatuto de sonho. E aqui o tempo de maturação do projeto na minha cabeça foi precioso para o tempo em que depois ele foi colocado em prática. Após decidir finalmente avançar o processo completo levou menos de 6 meses, ou seja, da primeira aula de escrita criativa até ter o livro físico nas mãos.
O título da história é inspirado na ilha onde nasceu?
A capa do livro é mesmo uma aguarela do mapa da ilha Terceira. O título é como quase todos os meus amigos e quem lida comigo diariamente me conhece: a menina da ilha e o maravi é um acrónimo que ganhei como username numa multinacional onde trabalhei mais de uma década. Com o passar dos anos acabei por responder a este nome como se do meu próprio se tratasse.
"Só me tenho mantido em movimento e deixado a ergonomia do processo seguir o seu caminho."
Qual foi a sensação de ter feito todo o processo da criação? Desde ilustração, escrita, publicação e apresentação do mesmo?
Para mim é a realização completa. Mas sempre de uma forma muito orgânica pois tudo aconteceu numa cadência, apesar de rápida, bastante natural. Festejei cada pormenor como se fosse a melhor etapa de sempre e fui consecutivamente surpreendida – quase diariamente – com novidades e conquistas até aí impensáveis. Posso dizer que me superei em grande escala.
Até onde quer levar o seu livro?
Agora já é o livro que me leva a mim e nem há um ano existe. Já ultrapassou tudo o que sonhei e pensei atingir sequer. MARAVI já passou de um livro, a um projeto e mais recentemente a uma marca. Não faço pressão a mim mesma em atingir mais isto ou mais aquilo e tenho agarrado cada oportunidade à medida que aparecem. Só me tenho mantido em movimento e deixado a ergonomia do processo seguir o seu caminho.
Se fosse hoje, mudaria algo na sua história?
Não mudava absolutamente nada. Em nenhuma das etapas. Tive oportunidade de alterar agora para a segunda edição e este para mim continua a ser o produto final perfeito. Não que esteja efetivamente perfeito a olhos profissionais, mas não tenho a menor dúvida que corresponde exatamente ao que idealizei.
"O sonho começara a materializar-se."
Fez parte da Coletânea “Sonhar e Ser” em 2021. Como foi a experiência desta aventura?
O conto do morcego Leo foi o trabalho final da primeira formação que fiz nesta área. Entreguei o conto no último minuto do último dia possível. Entretanto recebi uma mensagem da minha mentora à qual só respondi ‘sim’. Dois dias depois recebo outra, e esta sim li atentamente e várias vezes a dizer que dali a uns dias seria editada na coletânea. Já a maravi ia de vento em popa, já o meu livro tinha corpo e tinha nessa semana começado a planear as ilustrações e ainda não tinha contado a ninguém nada disto. Quando contei aos meus pais é que caí em mim de que este seria o início desta aventura. A coletânea foi um gigante pontapé de saída, foi um sucesso de vendas e mesmo a uma escala muito pequena colocou-me numa posição em que parar, desistir ou recuar já não eram opção. O sonho começara a materializar-se.
A Márcia tem vários projetos na escrita, desde Blogs, escrever textos para revistas, estar na parte editorial, além da sua vocação para a fotografia, inclusive o projeto de Cake Design. Como consegue conciliar tudo e ainda escrever?
E nenhum dos acima mencionados é o meu full-time (Hahaha).
É tudo uma questão de agenda e de planear muito bem todos os dias da semana. É possível, mas não vou dizer que seja fácil. Sou realmente organizada e focada e por ser uma pessoa mais visual a minha agenda está marcada por cores e essas cores estão estratificadas por importância.
Para a escrita e leitura reservo tempo específico para tal e respeito esse meu agendamento. Se por algum motivo de força maior passar de um dia para outro, duplico no dia seguinte a tarefa mesmo que isso sacrifique ou reajuste outra tarefa com menos peso.
Tenho a sorte de fazer imensas coisas que realmente gosto e que me realizam pessoalmente - o que alivia consideravelmente a carga. «Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida» já dizia Confúcio.
Defina a sua história numa palavra.
Aventuras.
Enquanto autora, que géneros literários gostaria de explorar?
Esta pergunta, neste momento, é difícil de responder. Recentemente abracei vários projetos de escrita e todos tão diferentes uns dos outros que estou a provar de vários estilos e a gostar de todos. Um género que me fascina, mas que me assusta ao mesmo tempo, talvez seja o fantástico e possivelmente por ter lido pouquíssimo desta vertente literária.
"Este livro tem várias componentes muito fortes nele integradas."
Vê-se a continuar na autopublicação?
Não somente, mas também. Para mim este processo de escrever, ilustrar e editar é muito natural porque sinto que são todas etapas consequentes. E eu como venho de artes e sou muito visual quando escrevo já estou a idealizar uma determinada imagem ou composição e acabo por avançar para o desenho muito antes da história estar terminada. Acho o papel do editor fundamental e nunca me senti sequer castrada ou limitada por nenhuma entidade à minha volta, muito pelo contrário. Por exemplo quando quis registar a MARAVI no Depósito Legal Nacional fui extremamente bem recebida e orientada assim como chegar a quem de direito para estar na Feira do Livro de Lisboa em 2023. É claro que quando fazemos publicações independentes temos muito mais trabalho em atingir o mesmo patamar à mesma velocidade de uma Editora e isso é compreensível. Neste momento não ando à procura de uma Editora, mas se surgir essa oportunidade, por que não?
Acredita que esta história é uma boa forma de chegar ao público mais jovem numa forma de promover a leitura?
Este livro tem várias componentes muito fortes nele integradas. Além de nos reportar para outro século, remete-nos também a uma realidade nacional bastante diferente da que vivenciamos hoje. O grande abalo de terra de 1980 na ilha Terceira, os costumes sociais e económicos da ilha e uma perspectiva histórica e geográfica sobre o arquipélago à época, dão um corpo cheio de responsabilidade ao livro para qualquer idade. De uma forma bastante descontraída (como aliás tudo o que escrevo) consegui homenagear em vida a terra que me viu nascer e a sua cultura e espero que ao lerem a Maravi consigam identificar todos estes pontos sem sentirem que estão numa aula de história ou geografia. Se ficarem com vontade de ler a Maravi nas restantes oito ilhas, fiquem por aí.
Na sua opinião, as redes sociais são uma boa forma de promover o seu trabalho?
São uma via fundamental e foram imprescindíveis no meu desenvolvimento e na divulgação e promoção do livro e de todo o projeto. Eu tento ser o máximo presente possível nas redes sociais e sou muito consumidora de tudo o que se faz online e no mundo digital. Ainda estou a aprender e sempre a tentar absorver o máximo de informação possível do que se faz por aí para aplicar na MARAVI. É um desenvolvimento e uma aprendizagem constantes.
"Aliás o lema da Maravi é que podemos ser tudo aquilo que quisermos ser!"
O que acha que devia ser feito em Portugal para dar mais voz aos autores Portugueses?
Precisamos de mais ‘ENTRE-PALAVRAS’ e das suas variadas atividades literárias! Também de Bookstagrammers que estão cada vez mais na moda e ainda bem porque o papel que têm nas redes sociais ganhou nos últimos tempos imenso peso principalmente junto dos mais jovens. Se é nas redes sociais que os jovens estão é lá que temos de estar também para que desse modo se consiga chegar a cada vez mais pessoas e cada vez mais novas. Temos em Portugal um problema cultural, quase que uma aversão à leitura e a pequena percentagem que lê prefere autores estrangeiros. Isto devidamente estudado e justificado porque não havendo o hábito de ler, o pouco que se lê que seja uma obra tendência mundial ou algum prémio literário.
Aqui o truque será, a meu ver, criar o hábito nas camadas mais jovens, por insistência e persistência. No meu caso ando a lutar para ir a cada vez mais escolas, centros educacionais, ATL’s, etc. como contadora de histórias, fazer atividades à volta dos livros e desmistificar a questão de que os livros são só para alguns. Aliás o lema da Maravi é que podemos ser tudo aquilo que quisermos ser!
Existe algum outro projeto em desenvolvimento?
Existem vários em várias áreas, mas talvez o mais importante seja para já a tradução do livro ‘MARAVI, a menina da ilha’ para o inglês que está previsto sair para o Natal. Só é preciso manter a agenda organizada e coordenar várias equipas em simultâneo visto que neste caso já não depende inteiramente de mim!
Para si a escrita é…
Oxigénio.
Deixe uma mensagem para os seus leitores:
Sou imensamente grata aos meus leitores, seguidores, amigos, família! Vocês são incansáveis, nunca desistiram de mim e sempre me apoiaram incondicionalmente. Quando resolvi tirar cá para fora esta ideia de ‘escrever e publicar qualquer coisinha’ nunca imaginei toda esta rede de suporte que se viria a formar em torno da Maravi enquanto livro e, também enquanto projeto pessoal. Se a Maravi ganhou asas, foi graças a cada um de vós.
Partilhe connosco uma passagem do seu livro que mais goste:
«A ilha da Maravi é um Mundo inteiro.»
Muito obrigada, Cristina, “Entre Palavras”
Eu é que agradeço de coração a oportunidade.
Bem-haja Entre Palavras
Obras da Autora:
