David Costa - Para si a escrita é... um escape e uma paixão.
"Sou casado e pai de dois filhos e a família é o meu pilar."

Olá, David,
Muito obrigada por ter aceitado o convite para a entrevista.
Vamos lá…
Quem é o David Costa?
O David Costa é, acima de tudo, um sortudo. Tenho 44 anos e estou neste momento numa fase magnífica da minha vida. Sou casado e pai de dois filhos e a família é o meu pilar. Como maior paixão tenho o Judo, modalidade da qual sou treinador e praticante desde 1986. Trabalho num supermercado, não é o meu emprego de sonho, mas vai dando para pagar as contas e claro, já me começo a considerar um escritor por direito próprio, graças à (curta) carreira que estou a cimentar pouco a pouco.
Como a escrita entrou na sua vida?
Foi por um acaso e acabou por ser encarada como um passo natural para quem lia muito e tinha uma imaginação muito fértil. Certa noite, do nada, estava em casa da minha avó e pensei: “e se escrevesse um livro?”, e a partir daí a escrita nunca deixou de fazer parte da minha vida. Estávamos no ano de 2003 ou 2004.
O seu primeiro livro foi “A Espada Flamejante – Vol. 1”, espera um dia dar continuidade a esta história?
Espero primeiro reescrever o primeiro volume desse livro porque a maneira como escrevia na altura (2009/2010) não tem nada a ver com a maneira como escrevo agora, porque a minha maneira de ver o mundo também mudou, e isso influencia a maneira como escrevo.
"Na realidade foi a pesquisa que me fez escrever o livro de forma tão apaixonada."
Como consegue intercalar o judo, escrita e família?
Acima de tudo com disciplina e com uma enorme compreensão da minha família. O Judo ocupa uma parte muito grande do meu dia, por vezes perto de 24 horas porque o trabalho no Judo não se resume ao tempo em que estamos no dojo, também temos de preparar os treinos, fazer inscrições, ver vídeos para preparar atletas para provas, etc. A escrita acaba por ser apenas nos tempos livres. O primeiro e segundo volumes d’O Despertar do Nefilim foram escritos em grande parte no telemóvel, momentos antes de entrar no dojo ou quando estava no carro, à espera de alguma coisa. Também tinha mais “resistência” no início, e era fácil levantar-me às 5 da manhã para escrever ou deitar-me por volta da uma ou duas horas. Agora não é bem assim!
“O Despertar de Nefilim” é uma história com um tema forte, como foi a pesquisa?
Na realidade foi a pesquisa que me fez escrever o livro de forma tão apaixonada. Inicialmente, o livro era para ser completamente diferente, a ideia era iniciar no tempo atual e depois abrir um portal que transportava o protagonista para um lugar algures na época medieval, e fazia assim a ponte para “A Espada Flamejante”, mas quando comecei a investigar a demonologia e angiologia, o tema fascinou-me tanto que a vontade de aprender cada vez mais me fez criar novas situações e encaixá-las numa história que eu nunca pensei conseguir escrever.
Quantos volumes podemos esperar deste mundo?
O Despertar do Nefilim vai ter três volumes. O terceiro está terminado. Mas estou a pensar num outro livro que terá a mesma temática, mas uma história completamente diferente.
Defina “Despertar de Nefilim” numa palavra.
Intenso.
"Todas as etapas pelas que passei me ensinaram algo..."
Quando sentiu que estava na hora de arriscar com uma editora “vanity”?
Quando percebi que o livro tinha “pernas para andar”. Antes de assinar contrato com a editora com a qual estou (Cordel d’Prata), tinha tido propostas exorbitantes de outras editoras, todas elas “vanity” d recusei porque não estava disposto a pagar as quantias pedidas. Enveredei pela edição de autor e apenas quando tive um feedback muito positivo dos leitores é que decidi arriscar numa editora, mais pela parte da distribuição que eu não tinha, e a Cordel fez uma proposta que eu não podia recusar.
Estava à espera da receção positiva por parte dos leitores?
Sinceramente não. Não tenho qualquer “background” em escrita e o receio de ser mal-recebido ou até de não saber se iam gostar da maneira como escrevia levou-me sempre a duvidar de a reação seria positiva. Felizmente foi!
De todo o processo que abrangeu ao longo do tempo em relação à história, arrepende-se de algum?
De nenhum. Todas as etapas pelas que passei me ensinaram algo, quer fossem coisas boas ou más, e apenas graças a isso consegui evoluir.
"Deu-me um gozo enorme criar essa personagem."
Qual a sua personagem favorita? E porquê?
A minha personagem favorita, ao contrário do que seria de esperar, não é o protagonista, mas antes um demónio que aparece no segundo volume, mas é mais explorado no terceiro volume, o Oton. Deu-me um gozo enorme criar essa personagem.
Gostava de explorar outros géneros da literatura?
Talvez o terror puro e duro. Não sou muito adepto de romances, mas não descarto essa possibilidade.
Se pudesse mudaria alguma coisa na sua história?
Não, tudo está como eu acho que deve estar.
Em que autores nacionais e internacionais vai buscar a sua inspiração?
Já tive oportunidade de dizer que não há um ou outro autor que me inspire, sobretudo na forma de escrever, mas creio que fui influenciado pelo Dan Brown no que diz respeito a capítulos curtos.
"Sinceramente, não sei, talvez publicitar autores “fora da caixa”."
Na sua opinião, as redes socais são uma boa forma de promover o seu trabalho?
Sem dúvida! Aliás, se quando comecei, soubesse usar as redes sociais como sei hoje, provavelmente teria continuado na edição de autor e não teria assinado com nenhuma editora.
Gostava de se internacionalizar?
Quem não? As opiniões de quem leu os livros são quase unânimes em afirmar que deveria explorar outros mercados (anglo-saxónicos e Brasil), mas os envios para o Brasil têm um custo proibitivo e os livros lá são muito caros, e a tradução para o inglês fica muito, muito cara.
Na sua opinião, o que falta em Portugal para obter mais leitores?
A literatura em Portugal sofre, como por exemplo o desporto, de uma concorrência desleal que são as tecnologias. Estas gerações mais novas leem muito pouco e isso traz até problemas a nível escolar porque não sabem interpretar uma pergunta ou o que é pedido num problema. Agora, o que falta? Sinceramente, não sei, talvez publicitar autores “fora da caixa”. Tenho leitores que não liam nada, mas sentiram curiosidade em relação aos meus livros e gostaram tanto do tema que começaram a ler mais. Isso é muito bom.
"Apostar nos autores, não se limitarem a publicar um livro e esquecer."
Na sua opinião, o que falta fazer no meio editorial em Portugal?
Ah, a pergunta do milhão. Isso é fácil: apostar nos autores, não se limitarem a publicar um livro e esquecer. Creio que as editoras deviam trabalhar mais os autores e lutarem por eles, mas claro que isso é um caminho de duas vias…
Para si a escrita é…
Um escape e uma paixão.
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Obrigado a todos os que me leem e permitem que aos poucos os meus livros andem por aí, porque como digo sempre, enquanto um livro meu andar por aí, é o mais próximo que vou estar da imortalidade.
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“- Eu não sou traidor – gritou Oton. – Nem sou um cobarde! – Gonçalo parou. – Sou um sobrevivente, Sangue de Miguel! Admito que sinto simpatia por ti, é verdade, mas deixaste de ser a peça mais forte do tabuleiro.”
Muito obrigada, Cristina, Entre Palavras
As obras do autor:
